quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Æternum Phœnix (2014)

Capa

Æternum Phœnix
Juliano Berko, MMXIV
[62’18’’]


Capa: Nebulosa do Carangueijo CONTRA-CAPA: Igreja Matriz da Cidade de Goiás ENCARTE: 1ª Ecografia da Aurora CD: “Disco de Nebra”, artefato neolítico europeu. GUITARRAS, BAIXO, VIOLÕES, LED SAWTOOTH, SYNTH STRINGS, PIANO, BATERIA, VOZES, EDIÇÕES DE ÁUDIO, ARTE DA CAPA E ENCARTE, URROS E SUSSUROS, LETRAS E MÚSICAS: Juliano Berko, 2013. Gravado entre o inverno de 2013 e o verão de 2014. Estética que ainda resiste no Cemitério das Ideias. AGRADECIMENTOS: à minha família, Maíra e Aurora; mãe e Sé; aos meus amigos, especialmente Flávio Pompeo, companheiro de paternidade; Leo e Danilo, “foi bom demais tocar convosco”!; aos meus colegas e alunos do Centro Educacional do Lago Norte, obrigado pela companhia e pela ajuda num momento tão delicado.

FIAT LUX!

Juliano Berko,
Jan.2014

www.oversolanoverso.blogspot.com
julianoberko @gmail.com
061-85156753

01. Boa Morte


Boa Morte 

Afinal, quem é você? O que ‘cê quer de mim?
Por que se faz tão feliz em me ver pelas costas?
Por que bate à minha porta a esta hora da noite?
O açoite da febre fabril já não lhe basta?
Afinal, por que é tão ingrata, tua besta grotesca?
Sabes que tenho gravata e conta bancária
Engulo seco o acinte, o desaforo pra casa
E não há quem seja incauto ao andar em meus sapatos
Então, vê se me passa bem longe da minha vista,
Que um dia ainda me despisto destas tuas rédeas,
E liberto minhas vias aéreas do ar que ‘cê vicia
Não há calendário que mostre o quão o dia está perto!

Quando estás aqui
A comida perde o sabor
A corrida que eu não competi
Desconhece vencedor
Nem conhece a dor o verso
Do poeta burocrata
Nos anais de qualquer congresso
Registre-se o dissenso em ata

Quer minha “Canção do Exílio”, “Confissão de Itabirano”?
Pois, ajoelhado no milho, já subi a escadaria
Querias poder editar meus “Cadernos do Cárcere”?
Pois, saibas que a fúria em mim destruiu minha bastilha
Crês que eu venderia meu tempo por algum salário?
Trabalho pra poder roubar as horas do relógio [nada faz sentido]
E os quilos que grudam em mim pela parte que me cabe
Na desigualdade do mundo, matam pela boca
E nunca dormi em barraco, não durmo com os ratos
Tenho os monstros, porém, introjetados no sono
Tenho 300 espelhos, não precisava tantos...
E somente este canto de desencanto, Boa Morte

Quando se exige rígido
Pois, a séria moral engendra
No ser o estar empedernido
Pra que tire leite das pedras
Avisem minha família
Da minha soberana opção
Doarei o meu coração
Pra fabricarem concreto

02. Infância Na Cidade de Goiás



Infância na Cidade de Goiás

Quando saía de Goiânia e tocava U2 no som de fita
Quando avistava a Serra e o sol brilhava nas minhas retinas
Já sabia o sentido da vida...

Quando eu pulava das pedras no Rio Bacalhau de água cristalina
E engolia piabinhas vivas pra aprender a nadar eu já sentia
Que àquela terra eu pertencia

Quando eu brincava na igreja com meu irmão, meus primos e primas
Quando a gente jogava bola e acertava a janela da tia
Depois de correr, a gente ria

Foi quando pela primeira vez eu mordi o pequi,
Peguei manga no pé, chupei caju da estação
Da goiabeira caí e aprendi a levantar
Deixar o medo no chão e provar do amargo...
Foi quando pela primeira vez tomei puxão de orelha
Apanhei da tia Isa, de vara da caramboleira
A minha mãe me batia, eu chorava e doía
O castigo a tarde inteira, mas fazia tudo outro dia
Me assustava a procissão, a escuridão me invadia
Na multidão, o clarim que passava por mim
Naquela marcha que vinha e com tocha iluminava
O meu sangue vermelho.
Depois, explodiam Judas

Quando eu chorava pra cortar o cabelo no Beto não sabia
Que o tempo passaria tão rápido, velocidade que eu nem percebia
Hoje a lembrança é o que fica


Procissão do Fogaréu, Cidade de Goiás [Fonte]


03. Como Está?




Como Está?

Oi! Como está?
Eu estou bem! Mamãe também!
Tudo bem aí? Vou te esperar
Fico aqui até você sair
Saiba que você será benvinda e amada
Com toda calma pra não se assustar
Estou aprendendo, é uma luta
E talvez a vida até pareça injusta...
Mas venha sem medo
Que tudo é aprendizado
E meu peito está aberto
E meus braços preparo
Como você é? O que tem de mim?
O que você tem que traz pra nós?
E da sua mamãe? O que trará?
De dentro dessa barriga que eu só sei beijar
E fazer cosquinha... como será a sua risadinha?
Quando ela virá?
E pra descobrir vou te acompanhar
Mostre pra mim o que virá
Me ensine o futuro
Ande ao nosso lado
Benvinda ao mundo!

04. Filho da Dor



Filho da Dor


Acumulo mil pecados
Pagá-los-ei todos a prazo
Até perder de vista
As dívidas honradas

Algumas coisas são o que são
Algumas coisas são como o céu
Na imensidão azul
Cego de ver o sol

Guardo no pó da estante
Por baixo dos panos quentes
Retratos do que havia antes
Quando ainda mostrava os dentes

Tenho sangue nos olhos
Não posso mais viver de joelhos
Tanta coisa que não escolho
Preciso encarar o espelho

Dentro de mim existe um lugar
Um lugar que existindo
Não deixa de estar
No meu exterior

Eu sou filho da dor
De ferro e fogo fui feito
De amor, agora sou
Pai da Aurora, amor perfeito

Minha mãe é o medo
Eu mamei no seu peito
O meu pai é o ódio
Eu deitei no seu colo
Meu irmão é o escuro
Nós subimos no muro
Do jardim do alpendre
Então, caímos de podres
Do pé de fruta-pão
E da pedra da sota
Por que faço canção?
Será que alguém se importa?

05. Pena




Pena

Eu queria ter-te em mim pelo não estar contigo
Ter-nos em perigo pelo ódio que carrego
E devorar a tua esfinge num banquete sem vestígio
Da besta que em mim habita, teu olhar é nosso elo
Quero ser teu vulto à noite, pesadelo, teu presságio
Quem cruza comigo assim peca em eterno mau-agouro
Eu queria ter teus genes, ter teu sangue, teu abrigo
Eu queria ser teu espelho, ter teu couro-cabeludo
Como a flor que explode tudo e destrói os teus neurônios
Ter vitória e ter seus louros, bomba de destruição em massa
Ser teu erro, tua desgraça, o beijo que te envenena
O verme a roer teu crânio, o pavor que te exaspera
Pudera eu dar-te prova, lambuzar com minha saliva
Com o mais puro óleo de oliva, mostrar-te-ia arder em fogo
A tensão que me acompanha no encordoamento de aço
Lançar-me ao fundo do poço onde enterro os teus ossos

Mas, que pena, não sou nada...
Grão de areia, pé na estrada.
Mas que lástima! Mas que dó!
Sou um violão: vibro, só.

06. Coisa Nenhuma


Coisa Nenhuma

Ponha as mãos no chão, comece a engatinhar
E o que você quiser é só ir pegar
Ponha as mãos pro alto, comece a chorar
Quem não chora não mama, aprenda a se expressar...

Coisa nenhuma há de te derrubar
Coisa nenhuma em nenhum lugar
Coisa nenhuma há de te impedir
De poder sorrir, coisa nenhuma

Dê-me a sua mão, comece a andar
E onde quiser ir, suas perninhas vão levar
Sente no banquinho, comece a pedalar
Confia em mim pra aprender a confiar

Coisa nenhuma vai ter garantir
Passar ilesa por tudo que há de vir
Coisa nenhuma faz sumir a ferida
Há aprendizado em tudo nessa vida

Eu até invento, mas saiba que não minto
Você vai saber o tanto que é bom sentir o vento
E o sol queimando, refresca o mergulho
Na sombra, eu me espalho
Vem ver o mundo com seus olhos

Dê-me seus olhinhos, não pare de fitar
É aí que a história viverá pra contar
Te dou meu carinho, minha companhia
Caminhemos juntos pela estrada da vida...

Coisa nenhuma vai se impor
Se a tua vontade assim não for
Coisa nenhuma vai te abrir
As portas da vida, venha nascer!

07. O Fim



O Fim 

Meu amor,
Espero que estejas bem nesta madrugada
Há meses não sonho com nada
No meu quarto são colecionadas
Noites mal dormidas
Há dias não vejo o sol
Vejo só num espelho quebrado
Os pedaços do que já fui
Mas cuido da flor ainda

Meu amor,
Minha vida inteira
Tem passado por minhas retinas
Minhas pálpebras ainda meninas
Não conseguem me esconder
Tenho refeito cada passo
Disfarço o rastro que deixo
Guardo o reflexo do espaço
Tenho segredos e algum cansaço
Depois do beijo
Guardo a caneta e me deito

Agora, meu amor
Não me guarde no peito
Não me duvide, se vim até aqui
Por favor, não me teste
Não deitaste em meus braços
Mas passaste por mim
Em silêncio tão casto
Que anunciara o fim
Dentre nós
Enfim sós
Pois, sim
Eu sou fênix

08. Crescendo



Crescendo 

Onde você está agora é muito mais seguro
Do que aqui fora, aproveite o tempo dentro do útero
Mas quando você conhecer bem o que lhe espera
Você vai se sentir viva e o seu coração disparará
Eu já tive medo do escuro
Eu já tive medo de quase tudo que há no mundo
Mas então cresci, sangrei e ganhei cicatrizes

Que me ensinaram a andar com os pés descalços
Que me ensinaram a andar com os pés no chão
Que me ensinaram a apoiar no chão com os braços
Quando fosse cair e assim aprendi a levantar
Pois, longe é um lugar que não existe
E a sua liberdade não virá sem muitos testes
Só você poderá abrir as portas daqui pra frente

Esse monstro gigante que te olha abismado
Não é nada mais que eu, também assustado
Esse tanto de pelo que carrego no meu rosto
Também me espeta, mas hoje eu até gosto
Eu também tenho medo de você
Eu também tenho medo de não saber o que fazer
Com os fantasmas do passado, incertezas quanto ao futuro

Tenho medo de que você me tenha como culpado
De tudo que der errado, eu assumo os meus erros
Confesso meus defeitos, mas não pago por pecados
Porque não acredito na liturgia do batismo
Eu também não escolhi nascer
Eu também não escolhi ser escravo desse mundo
Luto como posso, estaremos sempre juntos

Saiba que a mamãe é a minha melhor amiga
E que agora nós seremos uma só família
E mesmo que um dia papai e mamãe não fiquem juntos
Não espere nada, esteja pronta pra tudo
Você não veio ao mundo pra ser só mais uma hipócrita
Até pela surpresa, você veio enfiar o pé na porta
O mundo é pra ti, não há outro melhor... ainda

09. Embaixo das Marquises da W3



Embaixo das Marquises da W3

Eu faço de tudo, mas faço tudo errado
Aos olhos do mundo que me fitam condenando
Eu não sou perfeito não fui feito pro trabalho
Que querem como cruz sobre meus ombros
Os meus braços abraçam o espaço, saúdam a vida
Me cobre o cobertor de estrelas sobre a avenida
Me banho de luar no meu torto caminhar
Das pernas que me levam a lugar qualquer que eu queira

Adeus, amigos, não vou mais voltar
Foi muito bom estar com vocês
Mas chegou a minha vez.

É a última vez que durmo aqui
Embaixo das marquises da W3
Amanhã vou pra outro país
Vou sentir saudades de vocês

Eu sofro de tudo, mas sofro calado
Pois, não quero que julguem o que tenho no peito
Você que me ouve, que me ajude a entender
A autoridade que define o que é e não é defeito
Me lava, então, o mergulho na água do Paranoá
Me purifica o ar seco que paira aqui
Não vou mais me enganar, não posso mais mentir
Amar só se for amor a toda a humanidade.

Até, amigos, não posso mais ficar
Foi bom demais tocar convosco...
Vou com o gosto na boca.

É a última vez que durmo aqui
Embaixo das marquises da W3
Amanhã vou pra outro país
Vou sentir saudades de vocês

10. Phoenix Flight


Phoenix Flight

I.

O tempo passei tomando fôlego, tentando juntar
As minhas faces assim, num mosaico sem arte,
[Quebra-cabeça sem fim...]

Na falta de coisa melhor, deixei meus pés descalços,
Seria mais fácil culpar alguém pelo fracasso
Quem quiser que ande com os meus sapatos

Enfim, sem dimensão da distopia ninguém moveria um dedo,
Ninguém daria um passo rumo à utopia
[Educado pelo medo]

Se não puder fugir sem ter pra onde ir, recolho-me ao templo
Se não conseguir ver minha verdade interior
Peço mais tempo, pois, ainda não estou morto.

II.

Tenho que deitar numa cama em que eu não caibo
Tenho que sonhar numa noite em que eu não durmo
Tenho que renascer de um útero que eu rasgo
Tenho que partir sem deixar rastro, em silêncio
Tenho que cuspir nos pratos em que abuso
Tenho que ascender dos infernos que condeno

Devo ultrapassar os limites que me imponho
Devo alargar os horizontes que enxergo
Devo me reerguer e na curva do futuro
Devo reaprender e não levar a vida a sério
Devo muito mesmo, porém, não pago e não nego
Devo permanecer, já que sou a ferro e fogo

Nenhum psiquiatra, nenhum especialista
Nenhum biopoder nem o poder de polícia
Nem o mais condenável vício nem o domingo de missa
Nem o grito de guerra nem o silêncio de paz
Nem a palavra de ordem que com o vento se desfaz
Nada arrefece o ódio que vinca a escrita

III.

AURORA HORA AUREA
MUSIS AMICA EST
AURORA SURGENTE
MEMENTO MORI
MEMENTO SEMPER FINIS

[Aurora, hora dourada,
És amiga das musas
Aurora que vem surgindo
Lembre-se da morte
Lembre-se sempre do fim]

IV.

Não verso humores, senão chistes
Eu cantei amores, porém, amores tristes
O quanto cuidei das flores que existem
Tanto que deixo que todas as cores se desbotem
Os meses passaram, por que não?
Os anos por vir também não passarão?
Agora vejo que brota a semente
Atrasado, pois, o presente é exasperante

Aparentemente não há nada a diante
Nada é inconsciente, lugar nenhum é distante
Aparentemente, pois, nada será como antes
No rasgar da noite, prepara-se o levante

Não canto louvores, vejo vultos
Canto o que vem em sonho, ruído e luz de fundo
O quanto presto atenção ao que é oculto
Tanto que a todo instante estou à espera do salto
Não vem da garganta, nem do peito
De onde quer que seja, resiste a estética do medo
Removendo a terra, insepulto
No cemitério das ideias, último suspiro

Já veio a luz do sol ou ainda é alta madrugada?
Já sei onde estou, pra onde vou e o que me falta?
Se já é tempo agora, não me resta mais nada
Há em mim toda resposta, o caos não me exalta

Não curso horrores, outros sim
Na escuridão, não posso fugir de mim
O quanto sobressaltado levantei do colchão
Pra perceber: não posso viver sem paixão
Preciso de minhas asas pra voar
Preciso como qualquer de nós precisa do ar
Encontrar algum sentido em viver
Ou fazer acontecer, por fim, pagarei pra ver

Há tanto amor no mundo, viver pode ser simples
Convivemos, em resumo, num espaço com limites
De nada adiantou tanto ódio infecundo
Mas partir da compreensão do universo em expansão

V.

Os filósofos estão todos mortos
Cientistas estavam todos errados
Cozinharam tudo num banho morno
Ignorando o eterno retorno

Pelos quatro cantos do mundo
Por todos os mares e oceanos
Esconderam tudo em baixo dos panos
Já não posso mais viver no escuro

Busco quase à luz de velas
O rumo do meu caminho
Hoje sei que as retas paralelas
Se encontram no infinito

VI.

I was afraid of falling
Because where was I was too high
So I fell on the kitchen floor
Only then, only there I learnt to fly

On my struggle to be free
Someone sing along with me
I’ve been lost in the haze
Could not fit in this place

I kissed the ground, instead
I loved my fate, despite the fast decay
Death lay down beside me, I have felt it's ash
It was a delay

On my pilgrimage to nowhere
Still facing the same fears
Under a summer blue sky
I decided not to die

Sometimes I’ve woke up in the very middle of night
Sometimes I wouldn’t dare wake up from a nightmare
Sometimes I could not sleep until get one kiss from those lips
Sometimes I just could not care if my judgments were fair
Sometimes when I tried to steal one of those burning feathers
Rather than start to run, I went fly to the sun.

And I knew then
A new day is coming
Though I know now
A new dawn is rising
 
[Eu estava com medo de cair
Porque onde eu estava era muito alto
Então cai no chão da cozinha
Apenas então, apenas ali aprendi a voar

Na minha luta pra ser livre
Alguém cante junto comigo
Estive perdido na neblina
Não posso caber neste lugar 

Beijei o chão, ao invés Amei meu destino, apesar do rápido decair
A morte deitou ao meu lado, eu havia sentido suas cinzas
Foi uma demora

Na minha peregrinação para lugar nenhum
Ainda encaro os mesmos medos
Sob um céu azul de verão
Decidi não morrer

Às vezes acordei bem no meio da noite
Às vezes não me atrevi a acordar de um pesadelo
Às vezes não pude dormir antes de um beijo daqueles lábios
Às vezes não pude me importar se meus julgamentos eram justos
Às vezes quando tentei roubar uma daquelas penas em chamas
Em vez de começar a correr, fui voar para o sol

E soube então
Um novo dia vem vindo

Embora agora eu saiba
Se eleva uma nova aurora]

VII.

Poeta,
Tua meta, mesmo que breve seja tua jornada
E aja com destreza, ainda que tua morte esteja anunciada
E tua sentença transitada em julgado
A tua certeza, tua teleologia
Ainda que a vida seja tal qual uma rocha
E o mineral mais duro é o diamante
Mesmo que ornamente os pescoços da elite
Quem lhe arranca das entranhas da terra
É a tecnologia com a força do povo
Mesmo que demande greve de fome
E a explosão de um milhão de coquetéis molotov’s
Pra parir a fórceps um mundo novo
No teu peito, poeta, o ar que respira
Inspira a todos com as tuas rimas
Imprime nos outros o sentido da vida
Ode a todos os teus feitos, ser lido
Poeta, por teus riscos e rabiscos,
Lançados teus cantos aos sete ventos
Profusão de laringes, a Terra então vibra
Na calada da noite quando irrompe o dia
Na última vez que foste deitar
Nesta cama que não te deixas dormir
Liberta-te, pois, volte a sonhar!

VIII.

Voei alto sobre o abismo, talvez, o voo de Ícaro
Talvez o símbolo onírico, arquetípico - que pena!
Inércia tomara conta de meus pulmões e me afogara
Até que desacordara em meio às folhas em branco
Com a urgência da queda, o meu coração dispara
Trilho com minhas próprias pernas o caminho mais franco
Cantei as canções que quis, lancei-me, assim, aos céus
Nas alturas, fui feliz rasgando todo véu
Eu sonhara que morria e, quando acordava, não vivia
Hoje tem novo sentido tudo o que vivo a cada dia
Hoje há rima em cada verso como em tudo há poesia
Ao pretérito imperfeito, sou avesso, quem diria..?
Redefino minha loucura, reconheço meus defeitos
Pois, porto um vírus sem cura: a eterna procura