quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

01. Boa Morte


Boa Morte 

Afinal, quem é você? O que ‘cê quer de mim?
Por que se faz tão feliz em me ver pelas costas?
Por que bate à minha porta a esta hora da noite?
O açoite da febre fabril já não lhe basta?
Afinal, por que é tão ingrata, tua besta grotesca?
Sabes que tenho gravata e conta bancária
Engulo seco o acinte, o desaforo pra casa
E não há quem seja incauto ao andar em meus sapatos
Então, vê se me passa bem longe da minha vista,
Que um dia ainda me despisto destas tuas rédeas,
E liberto minhas vias aéreas do ar que ‘cê vicia
Não há calendário que mostre o quão o dia está perto!

Quando estás aqui
A comida perde o sabor
A corrida que eu não competi
Desconhece vencedor
Nem conhece a dor o verso
Do poeta burocrata
Nos anais de qualquer congresso
Registre-se o dissenso em ata

Quer minha “Canção do Exílio”, “Confissão de Itabirano”?
Pois, ajoelhado no milho, já subi a escadaria
Querias poder editar meus “Cadernos do Cárcere”?
Pois, saibas que a fúria em mim destruiu minha bastilha
Crês que eu venderia meu tempo por algum salário?
Trabalho pra poder roubar as horas do relógio [nada faz sentido]
E os quilos que grudam em mim pela parte que me cabe
Na desigualdade do mundo, matam pela boca
E nunca dormi em barraco, não durmo com os ratos
Tenho os monstros, porém, introjetados no sono
Tenho 300 espelhos, não precisava tantos...
E somente este canto de desencanto, Boa Morte

Quando se exige rígido
Pois, a séria moral engendra
No ser o estar empedernido
Pra que tire leite das pedras
Avisem minha família
Da minha soberana opção
Doarei o meu coração
Pra fabricarem concreto

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